segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Lembranças do Aprendizado...



"... há um menino, há um moleque morando dentro do meu coração, toda vez que o adulto balança, o menino me dá a mão. Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal, toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão..."

Faltavam poucos minutos para terminar a aula. Na época (1987) eu falava quase sem respirar. Os alunos mal conseguiam piscar. Era como se houvesse um mundo, "um vasto mundo", que devesse ser compartilhado, com ansiedade e muita paixão. Eu estava me familiarizando com os ritmos, com o tempo e os rituais da Escola, daí a preocupação com a "ordem". E faltavam dois minutos. Um menino levantou, foi até o quadro e começou a desenhar. Suprema heresia! O controle ameaçado. Eu pedi então que o menino sentasse. Ele, maravilhosa e esclarecedoramente, sentou-se e sentado foi arrastando a cadeira até o quadro para... continuar desenhando. E isso foi o mesmo que dizer (e eu pude ouvir): "Professora, não é o fim do mundo! A tensão, aqui, deve percorrer outros caminhos. A minha criatividade e a minha inteligência são muito mais interessantes que a sua 'ordem' e o seu 'controle'". Eu ri e depois agradeci. Nos anos seguintes, eu lembrei desse menino dezenas de vezes. Ele passou a fazer parte de mim.

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